Discurso de saudação à acadêmica Christina Ramalho

09/07/2016
  • Senhor Jorge Henrique Vieira Santos, digníssimo Presidente da Academia Gloriense de Letras, em nome de quem cumprimento toda a mesa;
  • Ilustres acadêmicos, autoridades presentes, minha família, caros amigos.

Subir a esta tribuna, em nome de nossa AGL, é sempre uma honra e um desafio. Uma honra, porque muitas razões nos encorajam a estar aqui e por reconhecer a grandeza e importância de cada membro presente nesta seção para a cultura das letras em nosso estado, inclusive em nosso cantinho sertanejo. E por isso mesmo um desafio, porque as palavras têm limites muitas vezes aquém das pessoas sobre as quais a letra fala. Mas, olhando a trajetória da AGL até aqui, em seus quase quatro anos de semeadura, é preciso reconhecer, que essa tribuna, hoje, tem um sabor especial de boa colheita.

Por isso, a AGL está em festa. A chegada de novos sonhadores ao nosso meio nos alegra e engrandece. Esta noite, em especial, somos acalentados, mais uma vez, com a certeza de que estamos na direção de nossos propósitos e de que avançamos mais um passo nesse sentido, pois esse sonho sonhado junto, pouco a pouco vai se transformando numa doce realidade.

Cumpre-nos agora trazer para todos mais uma boa nova. Como forma de reconhecimento por seus atos em favor do projeto que nos move, atos que foram realizados também movidos pelo sonho comum, que lograram êxitos em nosso caminho, que semearam letras e sonhos pelo sertão, nós, da Academia Gloriense de Letras, temos a grande honra de proceder neste momento à concessão do título de Membro Honorário a Christina Bielinski Ramalho.

Titulada em terras sertanejas como "Chris Ramalho", alguém cuja trajetória revela, indubitavelmente, o bom propósito no empreendimento das ações. Doutora em Letras pela UFRJ e professora universitária com onze anos de atuação, chegou a Sergipe em fevereiro de 2012. Como se as energias positivas se buscassem mutuamente, sem que percebêssemos, nesse mesmo ano, em maio, o Homem-livro nos visitou e inoculou em nossos sonhos a semente da AGL, que brotou em setembro daquele ano. Naquele momento, nenhum de nós imaginava que caminhos nos conduziriam até aqui.

Finalmente, após dois anos em Madri e um pós-doutorado na USP, Chris vem para o Nordeste, região de grande afinidade e afetividade para ela. Na Universidade Federal de Sergipe, passa a desenvolver suas ações como Professora Adjunta de Literaturas de Língua Portuguesa do campus Itabaiana. Desde o princípio de sua atuação na UFS, buscou todos os meios possíveis de se envolver com a realidade educacional e cultural sergipana. Desenvolveu um projeto de investigação sobre o trabalho com a poesia nas salas de aula do estado. A partir daí, ofereceu diversos cursos relacionados à literatura e à música a estudantes de Letras e à comunidade em geral, não só de Itabaiana, mas também de São Cristóvão. Foi quando seu caminho começou a levá-la ao nosso encontro. Almas boas se procuram. Desenvolveu para estudantes do Ensino Médio do Colégio Estadual 28 de Janeiro, no sertão sergipano, oficinas de criação literária (poema e crônica) numa parceria promissora e permanente com nosso querido confrade Carlos Alexandre, docente daquela escola... igualmente um semeador de letras, a quem tive a honra de receber em nosso Sodalício. Realmente almas boas se procuram!

Chris também contribuiu para a realização de eventos científicos em Sergipe, participando das comissões organizadoras de vários deles. Além disso, criou eventos que trouxeram profissionais de instituições nacionais e internacionais ao nosso estado para ministrarem cursos e palestras. Dessa forma, vieram a Professora-Doutora Margaret-Anne Clarke, da universidade inglesa de Portsmouth, o Professor-Doutor Saulo Neiva, da Université Blaise-Pascal, na França, o Professor-Doutor da USP Marcos Martinho dos Santos, o Professor-Doutor Fabio Mario da Silva (USP/Universidade de Lisboa), e a escritora cabo-verdiana Vera Duarte, que também veio a Sergipe a convite da professora Christina para promover maior divulgação da cultura cabo-verdiana que havia sido o objeto de estudo da professora Christina em seu pós-doutoramento.

Além das fronteiras da universidade, Christina buscou envolver-se com a cultura do estado, estabelecendo rapidamente relações produtivas com escritores e escritoras de Sergipe, tais como Domingos Pascoal, Aglacy Mary, Cris Souza, Antônio Saracura, Antônio Carlos Vianna, entre muitos outros e outras, e aproximando-se da nossa AGL, da Academia Sergipana de Letras e da ALAS.

Pontes construídas, unindo os sonhos e a literatura em terra serigy com o mundo. Mas também, olhando mais de pertinho para nosso canto, nutriu e nutre sonhos sertanejos, semeando a cultura das letras em nosso território. Vieram as oficinas literárias (Nossa Senhora da Glória, 2015), inaugurada com vinda do poeta pernambucano/paulista Frederico Barbosa para nos ensinar sobre criação lírica.

Vieram os concursos literários promovidos pelo Colégio Estadual 28 de Janeiro (Monte Alegre de Sergipe) e pela Loja Maçônica de Contiguiba, aos quais Chis emprestou sabedoria para avaliar e apontar caminhos, perspectivas. E por falar em avaliar e orientar, no cenário nacional, foi jurada da categoria "contos e crônicas" da versão 2015 do Prêmio Jabuti. Em outubro de 2015, Chris articula a vinda dos escritores cabo-verdianos Vera Duarte e David Hopffer Almada que firmaram convênio internacional com a ASL e com a AGL para futuras ações conjuntas. Na ocasião, articulou a participação de Vera Duarte na Bienal de Itabaiana, edição 2015, da qual a própria professora Christina participou. Depois veio a FLISE 2015, onde, em parceria com o Professor-Doutor Pedro Henrique Varoni, falou sobre música brasileira.

Christina é responsável pelo intercâmbio valioso que se deu entre a Academia Cabo-Verdiana de Letras e a nossa AGL, através de uma antologia de textos literários contendo essas duas matrizes culturais. Esta árvore está semeada, e seus primeiros frutos resultarão em livro a ser publicado em breve, ainda este ano. São as letras glorienses e cabo-verdianas alçando vôo para o mundo. E isto, devemos a Christina.

Um professor nunca deixa de realizar pontes, que são frutos de uma inquietude direcionada e atuante. Não se pode deixar de registrar, nesta trajetória, a condução de 32 estudantes de Itabaiana e de São Cristóvão à cidade de João Pessoa, onde realizou o encontro de seus alunos com três expressões importantes da poesia contemporânea da Paraíba: Lau Siqueira (atual Secretário de Cultura do estado da Paraíba), André Ricardo Aguiar e Antônio Mariano.

A poesia sendo uma de suas bandeiras, preencheu nos últimos três anos todos os projetos de Iniciação Científica da UFS, nos quais atuou com alunos da graduação e do Ensino Básico nas áreas de poesia lírica e da poesia épica.

Em 2015, apresentou à Secretaria de Educação de Sergipe o ambicioso projeto "Sergipe é poesia!", cujas ações terão, entre outros parâmetros: o estudo dos suportes teóricos utilizados para abordar poemas e de obras líricas de poetas contemporâneos; a seleção de poemas representativos da poesia contemporânea com vistas à realização de oficinas e atividades de divulgação dos poemas nas escolas; a atividade de ilustração de poemas; a realização de concurso estadual de poemas envolvendo todos os municípios de Sergipe; a publicação do livro Sergipe é poesia!, que reunirá poemas escritos por estudantes do Ensino Básico estadual sobre os 75 municípios sergipanos, a ser gratuitamente distribuído nas escolas sergipanas (públicas e particulares); a produção de material didático destinado a discentes portadores de necessidades especiais. Aprovado pelo atual Secretário de Educação, o projeto tem tudo para trazer a Sergipe diversos resultados importantes quanto à presença mais forte da poesia nas salas de aula e nos espaços culturais do estado.

Suas maiores contribuições para o desenvolvimento cultural da UFS e do estado de Sergipe em geral foram quatro.

Primeiramente, a criação, em 2013, do primeiro centro internacional de pesquisas da UFS, o CIMEEP (Centro Internacional e Multidisciplinar de Estudos Épicos), fundado, a partir da iniciativa e dos contatos da professora Christina, por 27 membros de vários países. O CIMEEP hoje reúne quase 90 membros. A Revista Épicas, cujo primeiro número será lançado em 2016, consolida sua produção científica. Por meio do CIMEEP, aconteceram ações da professora e de outros docentes e discentes da UFS na Universidade de Lisboa, na Universidade de Coimbra, na Sourbone e na Université Blaise-Pascal. Além disso, também a partir de visita que a professora realizou a Cabo Verde, foi assinado convênio entre a UFS e a Universidade de Cabo Verde, cabendo à professora Christina a função de gestora desse convênio. O próximo convênio deverá ser firmado com a Universidade de Varsóvia, visitada pessoalmente pela professora em evento em 2015.

Em segundo lugar, estão as ações voltadas para levar poesia para escolas sergipanas (boa parte delas com a participação do nosso confrade Carlos Alexandre). São elas: "Poetas na escola I", "Poetas na escola II" (2014), "Poesia Ilustrada" (versões I, II, III, IV, V e VI, realizadas em 2014), a "Noite de Gala da Poesia Contemporânea" (2014) e "Noite de poesia" no Murilo Braga (2016). Todos esses eventos proporcionaram a criação de elos sólidos de parceria entre a UFS e escolas sergipanas. Foram mais de 1.200 estudantes do Ensino Básico de quatorze diferentes escolas envolvidos nos projetos, que resultou, entre outros, no livro Olha o poema na escola (2014), organizado pela professora Christina e pelo Professor-Doutor Beto Vianna.

A terceira contribuição refere-se à "Oficina de Criação Literária Jovens Cronistas do Sertão", elaborada com nosso confrade, o professor Carlos Alexandre e cujo projeto foi aprovado pelo Ministério da Cultura, tendo obtido a maior nota entre todos os projetos apresentados em nível nacional. O livro, editado pela Infographics, foi lançado no dia 18 de junho no colégio Estadual 28 de Janeiro, quando diretores de escolas do sertão receberam gratuitamente exemplares para as bibliotecas das escolas.

A última contribuição se refere à criação da coleção "Série acadêmica - Estudos Linguísticos e Literários", proposta pela professora Christina à editora ArtNer Comunicação, que aceitou o desafio. Com conselho editorial representativo, que integra pesquisadores de diversas universidades brasileira, a coleção já com 4 títulos publicados e outros três em andamento, reúne artigos de mestrandos e mestres sergipanos e promove a visibilidade de pesquisadores da nova geração. A intenção da professora Christina e da ArtNeré fazer circular, em nível nacional, os trabalhos de investigação linguística e literária que têm sido desenvolvidos em Sergipe.

Carioca, nascida em 1964, poeta, contista e crítica literária, com 26 livros publicados (oito deles após a chegada à UFS), Christina Ramalho, apesar de estar em Sergipe há apenas quatro anos e meio, já se considera também sergipana. Última prova disso, informação partilhada pelo nobre amigo Professor Jorge Henrique Vieira Santos, presidente da AGL, com quem pude contar para honrar a presente empreitada, foi deixar de ser torcedora do Clube de Regatas Flamengo para passar a frequentar os jogos da equipe operária de Aracaju, o Confiança!

Finalizando esse minúsculo sobrevôo em uma grande trajetória, resgatando o linguajar matuto de nossa gente assim me expresso em versos livres:

Eu,

Que de besta nem coice tenho

Desde já me ponho em prece

Pra que nossa companheira

Honorária ageelina

Do que traz de (Chris)talina

Que foi "sergipaneado"

Suba agora essa tribuna

E nos dê a alegria

Seja aqui "glorificado".

Bem vinda à Casa que já é tua!