Discurso de Posse de Kelber Rodrigues
DISCURSO DE POSSE NA CADEIRA Nº 18 DE MEMBROS EFETIVOS
- Senhor Jorge Henrique Vieira Santos, digníssimo Presidente da Academia Gloriense de Letras, em cujo nome cumprimento a todos os integrantes da mesa;
- Senhor Domingos Pascoal de Melo, neste ato representando a Academia Sergipana de Letras, em cujo nome cumprimento a todos os confrades das nossas coirmãs aqui presentes, abro um parêntese para saudar especialmente os confrades Antônio Saracura, que aniversariou no dia 06, e o Joelino Dantas, que aniversariará amanhã, aos dois um abraço fraterno;
- Ilustres acadêmicos, autoridades presentes, minha família, caros amigos,
Boa noite,
É com muita emoção e fascínio, que ingresso nesta gloriosa agremiação, cujo convite veio de forma inesperada. Constitui-se para mim uma grata surpresa e grande honraria, que agradeço comovido a todos os nobres confrades. Afinal, é patente a minha pequenez diante da rica plêiade de intelectuais que compõem este honroso sodalício.
Ao tomar posse nesta majestosa Academia, sendo esta a primeira Academia de Letras instalada no interior do nosso Estado, e passando a ocupar a cadeira número 18, um forte sentimento de amor às letras, à nossa gente, inflama meu pensamento, com enorme emoção, estou sendo convocado não para uma trincheira isolada, mas para uma reunião de alto-comando, para participar de um estado-maior das letras e das artes, cujas decisões são da maior importância para o desenvolvimento e a cultura do nosso povo, da nossa região. Aqui estou ao lado de ilustres generais uniformizados com "as capas verdes" (as pelerines) do patriotismo e do saber e com as comendas de ouro, que simbolizam a profunda cultura e a experiência daqueles que já provaram aos conterrâneos os resultados do estudo aprofundado e inspirado, não só das letras, como das ciências e das artes, e principalmente dos interesses maiores de toda a nossa comunidade.
Falo "nossa comunidade" porque sinto ser filho desta. Faz algum tempo que tenho uma estreita relação com a querida Nossa Senhora da Glória. Em janeiro de 2005, recém graduado, tive a minha primeira experiência com a docência no Colégio Estadual Manoel Messias Feitosa, na gestão do Professor Sr. Cornelito, uma pessoa iluminada, que me acolheu com muita amizade e respeito, pessoas como as inesquecíveis coordenadoras Professora Lourdinha, Josefa, Perete, Auxiliadora (Cili), e as pedagogas Patrícia e Joniele estão guardadas em meu coração, não esquecendo dos queridos professores, colegas de trabalho, Jorge Henrique, Maria do Carmo, Matheus, Wagner, Eleomar,Laudisson, Luciana, Maria José (Galega), Vânia, Acácia, Luciano, Cleriston, Cleber, Adriana, Carmem, Santiago, Adeilson, João Everton, Wandisson, e, em memória, o professor Valmir, dentre tantos outros que me ajudaram a crescer como pessoa e, principalmente, como profissional. Em 2006, trabalhando na Universidade Tiradentes - Polo Monte Alegre, fui Professor/Tutor de vários alunos do Curso de Letras Português, filhos desta querida terra, mantendo um laço de grade amizade e afeto com pessoas tão queridas. Em 2014, para selar esta relação tão afetuosa, fui convidado, pelo Professor Vasko, a participar da fundação da ALAS, onde sou membro efetivo, ocupante da cadeira 29. Como acadêmico, participei de vários cursos, plestras, reuniões nesta adorável cidade outrora chamada Boca da Mata.
Nesta noite de evocações e de celebração, pois somente aqueles que experimentaram da vida podem fazer evocações, como afirmou o poeta e dramaturgo espanhol Jacinto Benavente: "Ninguém aprende a viver pela experiência alheia; a vida seria ainda mais triste se, ao começarmos a viver, já soubéssemos que vivíamos apenas para renovar a dor dos que viveram antes". Assim, evocar é buscar cumplicidade com as experiências passadas, com as histórias humanas que já se foram, com as existências que lutaram e superaram suas contingências.
Assim faço, evocando o ilustre que escolhi para patronear a cadeira a qual ocuparei, curioso, comecei a pesquisar mais sobre a nossa cultura, já conhecedor de vários poetas e escritores que deram visibilidade literária ao nosso Estado, tive contato com a obra do grande incentivador cultural, ulta-romântico, condoreiro, com algumas características do classicismo, influenciado por nomes emblemáticos como Silvio Romero e Tobias Barreto, com formação filosófica e historiador literário, o Dr. JOAQUIM DO PRADO DE SAMPAIO LEITE, conhecido como PRADO SAMPAIO, foi Bacharel em Direito - Filho do farmacêutico Joaquim do Prado de Araújo Leite e D. Lídia Carolina Alves Sampaio, nasceu em Aracaju a 3 de junho de 1865. Estudou as primeiras letras na cidade do seu nascimento, fazendo o curso secundário no "Atheneu Sergipense". Em 1884, matriculou-se na Faculdade de Direito do Recife, onde fez o tirocínio acadêmico, recebendo o grau de bacharel a 8 de março de 1889.
Cursava ainda o 5º ano jurídico quando foi nomeado promotor público da comarca de Japaratuba, removido depois para a de Itabaiana, e mais tarde para a de Aracaju. Em 1893, foi nomeado secretário do Tribunal da Relação, lugar que ocupou até quando foi nomeado juiz de direito da comarca de Lagarto, em 11 de junho de 1895. Deslocado do cargo de juiz de direito de Lagarto para o de Gararu e, logo em seguida, deste para a Comarca do Rio Real. Algum tempo depois, foi transferido para o Estado de Pernambuco, sendo ali nomeado juiz municipal do termo da Vitória e em seguida secretário da polícia do mesmo Estado. Deixando a referida secretaria abriu escritório de advogado, trabalhando nos foros de Camamu, Vitória, Nazaré e Limoeiro. Em 1905, regressou ao Estado natal, sendo nomeado promotor público da comarca de Maruim.
Além dos misteres de sua cadeira foi deputado à Assembleia Constituinte de Sergipe e sócio do Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe, do qual foi o orador em 1917, e sócio correspondente do Instituto Arqueológico e Geográfico de Pernambuco. Colaborou no "Jornal de Sergipe", "Correio de Sergipe", "Jornal do Recife", "Diário de Pernambuco", no "O Direito" do Recife, onde publicou os estudos "Sobre os lúcidos intervalos da loucura" e "Da legítima defesa, em matéria criminal"; foi correspondente no jornal "O Estado de Sergipe", "Folha de Sergipe", "Correio de Aracaju", "Diário da Manhã" entre outros.
Escreveu vários textos, dentre eles: Ensaios, de 1882; Lucubrações, de 1884; Lendas Sergipanas, de 1903; Poema do Lar, 1904; Sergipe Artístico, Literário e Científico, que fora apresentado na Exposição Ibero Americana de Sevilha, no período de 1929 e 1930, que tinha como objetivo reforçar os vínculos entre Espanha e a América.
Também escreveu vários Escorços de literatura geral, dentre eles cito alguns: Domínio da literatura; gênese de suas primeiras manifestações: epopeias coletivas e poemas individuais; Evolução da arte e da literatura. A etnografia perante a literatura.
O notável ilustre veio a óbito em 13 de fevereiro de 1932, em Aracaju (SE), nos deixando uma vasta produção.
Para tanto, podemos afirmar com segurança que temos em nossas mãos a responsabilidade de sermos os guardiões, difusores, propagadores e incentivadores da palavra escrita, seja através da poesia, de contos, crônicas ou mesmo através de palavras soltas, mas que ganham significado de acordo com o solo que abriga. Neste sentido, assumo aqui, perante toda a comunidade acadêmica, meu compromisso em preservar a memória do referido Patrono, enquanto titular da cadeira.
Do mesmo modo, nós que ousamos escrever, somos a luz que irrompe a escuridão, o conforto dos desamparados, a fonte de quem tem sede, a segurança dos que buscam um porto, a civilização contra a barbárie. Mas também podemos ser a espada cortante, a bofetada, o desconcerto, o motivo da ira, a tempestade. Assim como o filósofo Sócrates incomodou os poderosos de Atenas com suas verdades desconcertantes, o escritor continua incomodando os tiranos que preferem uma sociedade apática e sem questionamentos às verdades prontas e acabadas. Mesmo incomodando, mesmo sendo incompreendidos, mesmo sendo ignorados e por muitas vezes perseguidos, continuaremos falando, continuaremos escrevendo nossos versos, nossas angústias, nosso pensamento. O grande Apóstolo (Lucas 19, 40) disse: "Se calarem a voz dos profetas, as pedras falarão". Assim, continuaremos nossa missão profética de contribuir para um mundo melhor, com mais humanidade, mais tolerância e mais amor.
Finalizo agradecendo aos confrades que abriram as portas da Academia para eu iniciar minha carreira de imortal. Tenho o mais profundo respeito por cada um de vocês. Agradeço a todos aqui presentes que servem de testemunhas para esse meu momento ímpar e a todos os amigos pela força, pelas dicas, pelas críticas, pelos empurrões e, acima de tudo, por acreditarem em mim e em meu trabalho.
Como sempre costumo dizer:
"Paz e muita luz" a todos que aqui estão.
Muito obrigado.